P A P E L
(do livro : TRIST’ANJO)
Vinha, lá, u’a senhora e mui bela,
Contragosto consigo trazia,
Seguro pelas duas mãos dela,
Um papel com o qual tudo fazia.
Malgrado todo encanto fosse pouco,
Pudera o desacato receber,
Com espanto o desencanto de um louco,
Designado a desafeto em viver.
Amassado o papel tido indigno,
Despojado, despejado tal um bicho,
Ofendendo testemunho fidedigno,
Considerado foi, apenas como lixo.
Salve! À mão que daí o levantara;
Quiçá, vida nova viria,
Reacendendo o amor que apagara
Nas entranhas do coração qu’inda vivia.
Pur’ilusão brilhante a confundir;
A mesma mão que do abismo resgatou
O desconcertado coração para iludir,
Pegou o papel, o amassou e novamente jogou!
CPN,28/05/1985 MARCOS RS RAMASCO.